Lucas 2.21-32
Lemos que, quando o Salvador tinha oito dias de idade, ele foi circuncidado e chamado Jesus. Não era necessário ir a Jerusalém com esse propósito. Entretanto, ao final de quarenta dias, quando tinha quase seis semanas de idade, ele foi levado a Jerusalém por dois motivos.
Primeiro, sua mãe recebeu permissão, após o nascimento de seu filho, para entrar no templo. Ela foi até lá com uma oferta de ação de graças. Se tivesse condições, teria trazido um cordeiro de um ano de idade, mas sendo muito pobre, apresentou duas rolinhas ou dois pombinhos (Veja Levítico 12). Em segundo lugar, Jesus, como filho primogênito, foi apresentado ao Senhor. Desde a morte dos primogênitos do povo do Egito e a salvação dos primogênitos de Israel, Deus havia reivindicado todos os primogênitos como seus (Êxodo 13). Os primogênitos de vacas, ovelhas e cabras eram oferecidos em sacrifício — os primogênitos de outros animais não eram oferecidos, mas dinheiro era apresentado em seu lugar, e esse dinheiro era usado para comprar sacrifícios. Deus também não permitia que crianças primogênitas fossem oferecidas em sacrifício, mas permitia que fossem resgatadas com dinheiro.
Maria, portanto, foi ao templo para apresentar seu filho primogênito ao Senhor. Jamais uma oferta tão aceitável foi feita ao Pai. Seu único Filho amado foi trazido à casa de seu Pai e entregue ao seio de seu Pai. O sacerdote supôs que ele seria resgatado por dinheiro. Mas, esta criança santa não podia ser resgatada por dinheiro. Ele era um Cordeiro sem mácula e, sobre o altar da cruz, logo seria colocado — um sacrifício voluntário e suficiente pelos pecados de todo o mundo.
Quando Maria trouxe seu filho ao templo, algo muito interessante aconteceu. Um profeta idoso apareceu e reconheceu o Salvador recém-nascido como seu Senhor.
Os profetas quase tinham parado de profetizar durante muitos anos antes de Jesus vir ao mundo. Malaquias, que havia profetizado quatrocentos anos antes de sua vinda, foi o último nome registrado. Na época da vinda de Jesus, contudo, o espírito de profecia foi novamente derramado sobre algumas pessoas santas. Lemos as profecias de Isabel, Maria e Zacarias no primeiro capítulo de Lucas, e agora lemos a profecia de Simeão. Deus lhe revelara que ele não morreria até que Cristo viesse — e também o fez saber o momento preciso em que os pais trariam o divino bebê ao templo. Simeão entrou e encontrou José e Maria seguindo o costume da lei para os filhos, isto é, apresentando-o ao Senhor diante do sacerdote de Deus. Neste momento interessante, o idoso fiel viu pela primeira vez seu Salvador, tomou-o nos braços e o abençoou. Sua fé era tão forte que ele foi capaz de crer que o bebê daquela mulher pobre que ele via era o Senhor da glória.
As palavras que ele pronunciou enquanto segurava a criança são muito bonitas. Percebemos que era seu desejo sincero ver seu Senhor com os olhos do corpo antes de morrer. Este era um desejo muito natural e até algumas pessoas que não amam verdadeiramente a Cristo podem desejar o mesmo. Elas podem desejá-lo por curiosidade, mas Simeão o desejava por afeição. E por que Simeão amava o Salvador? Porque ele valorizava sua grande salvação; ele estava esperando pela "consolação de Israel" (o nome dado a Cristo no versículo 25). Ele era um pecador arrependido, e era um consolo para ele saber que Deus havia providenciado um Salvador. No versículo 30, ele se refere a Jesus como "tua salvação": "os meus olhos já viram a tua salvação". Ele também se alegrava ao pensar que outros homens seriam salvos por meio de Jesus, tanto judeus quanto gentios. Ele diz (versículos 31, 32) que Deus havia dado Cristo a todos os povos, uma luz para iluminar os gentios, bem como para a glória de Israel.
Isso revela o amor pelos outros que habitava no coração de Simeão. Ele ansiava que todos conhecessem seu Salvador. Está registrado que um célebre ministro, chamado John Howe, em seus últimos dias, desejava muito alcançar esse conhecimento de Cristo e ter esse sentimento de seu amor que eram um prenúncio das alegrias do céu. Após sua morte, encontraram um papel em sua Bíblia registrando como Deus havia respondido sua oração. Numa manhã (ele anotou o dia), ele acordou com os olhos cheios de lágrimas, dominado por um senso da bondade de Deus em derramar sua graça nos corações dos homens. Ele nunca conseguiu esquecer a alegria daqueles momentos. Eles o fizeram ansiar ainda mais ardentemente por aquele céu que, desde sua juventude, Howe ansiava contemplar. Que deleite enxergar Cristo pela fé antes da nossa morte! E, então, nós também o contemplaremos um dia — com nossos olhos do corpo. Pois, embora morramos sem essa visão, seremos ressuscitados para contemplar nosso glorioso Redentor, vindo nas nuvens do céu!
Todos os verdadeiros crentes podem agora dizer, com Jó: "Eu sei que o meu Redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra. Depois, destruído o meu corpo, então fora da carne verei Deus. Eu o verei ao meu lado, e os meus olhos o contemplarão, não mais como adversário. O meu coração desfalece dentro de mim!" (Jó 19.25-27).