Lucas 1.67-80
Quanta misericórdia Deus demonstrou a Zacarias! Não apenas restaurou sua fala, mas o capacitou a profetizar. Zacarias, em seu cântico, não fala tanto sobre seu próprio filho, mas sobre o Salvador a quem seu filho serviria. Isso mostra que seu coração estava fixado nas bênçãos espirituais, e não em seu próprio conforto terreno ou honra.
No início de seu cântico, ele fala do Salvador sob o nome de "chifre de salvação" (versículo 69 na versão KJV). Por que ele lhe dá esse nome? Com seu chifre, um animal destrói seus inimigos. Cristo veio para destruir o diabo e suas obras. Por que então ele não é chamado de chifre de destruição? Porque ele destrói os inimigos para salvar seu povo - portanto, ele é chamado de "chifre de salvação".
Na última parte de seu cântico, Zacarias chama o Salvador por outro nome, "a Aurora" (versículo 78). O mundo estava imerso em trevas e na sombra de morte até que Cristo apareceu. Era como viajantes que haviam se perdido entre penhascos e precipícios perigosos, e foram repentinamente surpreendidos pela escuridão — de modo que não ousavam avançar, com medo de cair em algum poço profundo. De repente, o sol nasceu para "guiar os nossos pés no caminho da paz".
Nosso país já esteve imerso nessa escuridão e estava repleto de ídolos, até que missionários vieram e pregaram o evangelho. Porém, mesmo que hoje o nome de Cristo seja conhecido em todas as cidades e vilas, cada alma permanece na escuridão até que a "Aurora lá do alto" brilhe em seu coração.
No meio de seu cântico, Zacarias se dirige ao seu próprio filho recém-nascido, dizendo: "E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo". No momento em que seu pai proferiu essas palavras, João era um bebê indefeso; mas Zacarias sabia como ele se tornaria grande. Muito pouco é relatado sobre sua infância. No último versículo deste capítulo, é dito que ele cresceu como outras crianças; e também que se tornou forte em espírito. Sabemos o que é tornar-se forte no corpo. Mas, o que é tornar-se forte em espírito? É ter fé na palavra de Deus e resistir, na força de Deus, às tentações de Satanás.
O apóstolo João, em sua primeira epístola, diz: "Jovens, eu vos escrevi porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e já vencestes o Maligno" (2.14). Os crentes que são fortes em espírito são chamados de "jovens". Como então João se tornou tão forte em espírito? Sem dúvida, foi através da oração em privado e da meditação nos desertos. Está escrito que ele "morou no deserto até o dia da sua aparição pública a Israel"; ou até o momento em que começou a pregar publicamente, o que fez aos vinte e sete ou trinta anos de idade. Aqueles que ensinam os outros devem ser preparados, aprendendo primeiro de Deus.
E o que João Batista ensinava? Seu pai declara em seu cântico o que ele ensinava (76, 77): "Irás à frente do Senhor, preparando os seus caminhos; para dar ao seu povo conhecimento da salvação pelo perdão dos seus pecados".
Era a "salvação por meio de Cristo" que João proclamava. Nenhum dos antigos profetas mostrou o caminho tão claramente quanto o santo Batista. Mas nós temos uma descrição ainda mais clara com Jesus e seus apóstolos. Já nos alegramos ao ouvir que os pecados são perdoados pelo sangue do Cordeiro? Ninguém jamais se alegrou ao ouvir essas notícias, exceto aqueles que sabiam que precisavam de perdão.
Se um homem entrasse nesta sala com um perdão do governador para nós, não sentiríamos nem alegria nem gratidão. Diríamos: "Deve haver algum engano; nunca fomos a julgamento, nem condenados, nem sentenciados à morte. De que nos serve este perdão?". A razão pela qual a maioria das pessoas ouve o evangelho com tanta indiferença é que elas não sabem que estão condenadas pela lei de Deus. Elas dizem: "Nossos pecados podem ser facilmente perdoados; não são muitos nem grandes; outros pecaram mais do que nós; certamente escaparemos da punição". Todavia, quando um pecador sente que merece morrer, ele agradece a Deus por sua grande misericórdia ao ter enviado o Salvador ao mundo.